quinta-feira, 29 de julho de 2010

RODRIGO SILVA

No dia 1° de janeiro de 1888 o céu azul iluminou a singela estaçãozinha ferroviária do lugar. Todas as construções do complexo ferroviário cheiravam tinta fresca, iriam ser inauguradas naquele dia por um visitante ilustre. A grande locomotiva cuspiu fumaça e fogo no alto da serra. O vagão luxuoso aportou no patamar da estação. O velhinho de cartola e barba branca, que desceu logo em seguida, despertou vivas na multidão de ferroviários, que por anos a fio trabalharam na execução daquela obra gigantesca. O velhinho de barbas brancas era o Imperador D.Pedro II, sua missão naquele dia era inaugurar o complexo ferroviário de Rodrigo Silva, construído sobre as velhas fazendas da antiga José Correia. Pouca gente conhece esta cena ou já ouviu falar nisso, mas assim nasceu oficialmente Rodrigo Silva.

Os primeiros registros relativos ao local denominado José Correia sempre estão ligados à Santa Quitéria do Alto da Boa Vista, antiga paragem colonial, hoje abandonada, nas proximidades de Rodrigo Silva. A mineração de topázio sempre esteve presente na história do lugar. Viajantes estrangeiros já registravam a exploração de topázio no início do século XIX. Algumas destas lavras de topázio eram gigantescas empregando centenas de escravos. Até a chegada dos ferroviários, José Correia compunha-se de fazendas espalhadas por léguas de distância. A mais famosa delas é a Fazenda do Fundão, ainda existente. Nesta fazenda nasceu, em 1870, Alfredo Fernandes dos Prazeres personagem importante na construção da nova cidadezinha ferroviária. Quando no começo da década de 1880 fez-se o projeto da estrada de ferro ligando o Rio de Janeiro à Ouro Preto, projetou-se também uma nova paragem a se estabelecer em José Correia, que teria seu nome mudado para Rodrigo Silva em homenagem a um ministro imperial. O complexo ferroviário inaugurado em 1888 em volta da estação estendeu-se posteriormente de um lado a outro, paralelo à estrada de ferro. Alfredo Fernandes estabeleceu em Rodrigo Silva casas de comércio e doou o madeiramento para a construção da Igreja de Santo Antônio, padroeiro do lugar. As mercadorias chegadas na estação eram então distribuídas pela região, por vários tropeiros a serviço do jovem fazendeiro.

No começo do século XX fundou-se a Sociedade Musical Santa Cecília de Rodrigo Silva, símbolo primeiro da cultura desenvolvida pelos ferroviários. No arquivo desta banda encontram-se composições feitas pelos ferroviários, demonstração de grande apuro musical. Hoje nos trilhos de Rodrigo Silva não passam mais trens, mas a cultura do topázio continua, com a exploração do famoso topázio imperial, único do mundo. 

Alex Bohrer
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