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segunda-feira, 12 de abril de 2010

José Pereira Arouca

José Pereira Arouca foi o principal empreendedor e construtor que atuou na Cidade de Mariana. Nasceu por volta de 1733 na Freguesia de São Bartolomeu, Vila de Arouca, no Bispado de Lamego, Comarca do Porto, Portugal. Era filho legítimo de Manoel Pereira Flor e Mesia de Pinho Vieira. Como pedreiro e como administrador de obras de pedreiro e carpinteiro, enriqueceu nas Minas, tendo ao longo da vida adquirido cabedal considerável: quando morreu - solteiro, em 1795 - deixou mais de cinqüenta escravos! Era Irmão da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, estando sepultado na respectiva capela da Ordem. O foco de sua atividade foi, sem dúvida, a Cidade de Mariana. O Segundo Vereador de Mariana, no seu célebre relatório de 1790, afirma que José Pereira Arouca foi discípulo de José Pereira dos Santos.

Desempenhou trabalhos na Igreja de São Francisco de Assis (entre 1762 e 1797 construiu o corpo e as partes constituintes da referida igreja), Igreja de São Pedro dos Clérigos (em 1753, como fiador das obras), na Catedral (entre 1763 e 1789), Igreja de Nossa Senhora do Carmo (1762), Igreja do Bom Jesus (no atual distrito de Furquim). Paralelamente à construção de templos, dedicou-se à obras públicas e privadas (alem de outras de caráter religioso): participou da construção e conserto de diversas pontes; em 1770 arrematou as obras da Casa Capitular; construiu e consertou diversos chafarizes (alem do reparo de um aqueduto); participou de várias obras no Palácio dos Bispos e no Seminário de Nossa Senhora do Boa Morte; atuou na Casa de Câmara e Cadeia (que, via de regra, é considerada obra sua); fez e reformou várias calçadas (alem de outras obras de infraestrutura); atuou também em uma exaustiva variedade de obras de menor vulto.

Em 1762 foi eleito Juiz do Ofício de Pedreiro (reeleito novamente em 1772 e 1774). Em 1764 foi eleito Juiz do Ofício de Carpinteiro. Em 1780 foi nomeado Porta Estandarte da Segunda Companhia do Primeiro Regimento Auxiliar de Mariana. Em 1780 era tesoureiro da Câmara de Mariana. Em 1781 tornou-se alferes. Em 1787 era Administrador da Renda das Aferições, por conta do Senado da Câmara. Por duas vezes se viu envolto pelas rédeas da justiça, tendo sido preso em 1768 e em 1793. Em 1782 foi encarregado de dirigir as obras da estrada entre Ouro Preto e Mariana, reconstruída a mando do governador de então, Dom Rodrigo José de Meneses.

Provavelmente alguns parentes de José Pereira Arouca atuaram em Mariana, em conjunto ou sob influência deste: Bernardo Pereira Arouca (pedreiro), Francisco Fernandes Arouca, Joaquim Arouca, Joaquim Pereira Arouca (os dois últimos nomes, ao que parece, se referem ao mesmo indivíduo).

José Pereira Arouca foi homem dos mais atuantes em Mariana no século XVIII. A marca de suas obras e de seu empreendedorismo se espalham pela cidade até os dias de hoje.

Alex Bohrer
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Manuel da Costa Ataíde: Arte e Música

Manuel da Costa Ataíde nasceu em Mariana em 1762, sendo batizado na Sé Catedral em 18 de outubro daquele ano. Na mesma igreja foi crismado em 16 de maio de 1780. Era filho legítimo do Alferes Luis da Costa Ataíde e de sua mulher Maria Barbosa de Abreu. Seguindo a carreira militar do pai (alferes era posto que hoje corresponderia a Segundo Tenente), em 1797 foi nomeado para exercer o cargo de Sargento das Ordenanças no Arraial do Bacalhau (atualmente um distrito de Piranga). Em 1799, no povoado de Mombaça (então Termo de Mariana), registrou a patente de alferes, mesma categoria de seu pai. Como militar atuou, pela mesma época, no Arraial de São Bartolomeu (atual distrito de Ouro Preto). Em 1809 lhe foi concedida a patente de Alferes da Companhia das Ordenanças do distrito de Soledade, que fazia parte do Termo de Vila Rica.

Paralelamente à sua carreira de militar, cultivou desde cedo o gosto pelas artes, especialmente a pintura. Atuou na região de Piranga e fez trabalhos na Matriz de São Bartolomeu, o que mostra concomitância de suas ocupações. Tão exímio pintor se tornou que, sendo reconhecido em vida pelos seus, chegou a solicitar permissão para abrir uma escola de pintura em Mariana para ministrar “Aula de Desenho de Arquitetura Civil e Militar e da Arte da Pintura”. Sua fama, contudo, não deve ter perpetrado as fronteiras mineiras, não chegando à Corte Carioca: seu pedido infelizmente foi negado. Antes desta frustrante resposta, entretanto, já havia recebido em 1818, do Senado da Câmara de Mariana, um atestado de professor das “Artes de Arquitetura e Pintura”.

Não se sabe como ocorreu sua formação e introdução no mundo da produção artística mineira. O certo é que, alem de pintor, era dourador e encarnava imagens. Começou a atuar no período das criações de influência rococó e, como todos seus contemporâneos, seguiu modelos segundo fontes européias. Uma marca registrada em suas obras era a representação de anjos mulatos e sua predileção por temas musicais. Nas pinturas de Ataíde encontramos várias partituras musicais, anjinhos músicos, orquestras celestes etc. Mesmo considerando que este tipo de representação musical encontre antecedentes na Europa, isto é muito mais interessante na obra de Ataíde, posto que o mesmo possuía instrumentos musicais (como vemos em seu inventário post mortem). Em vista disso, é muito provável que nosso artista fosse realmente um músico.

O grande pintor marianense atuou em Ouro Preto (fartamente), Piranga, Itaverava, São Bartolomeu, Conceição do Mato Dentro, Santa Bárbara, Ouro Branco, Catas Altas (do Mato Dentro), Congonhas, entre outras. Na sua cidade natal executou uma obra de vulto: o forro da capela-mor da Igreja do Rosário dos Pretos. Na sacristia da igreja em que está sepultado (São Francisco) concebeu os painéis de forro. Atuou também, em serviços diversos, na Igreja do Carmo, na Sé, em outros pormenores da São Francisco e na Câmara (nesta última executou um retrato de Dom Pedro I).

Ataíde faleceu em 2 de fevereiro de 1830 e foi sepultado na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis de Mariana, da qual era irmão. Segundo seu testamento era também irmão das Ordens Terceiras do Carmo e de São Francisco de Assis de Ouro Preto e de várias outras irmandades, o que bem atesta sua religiosidade - religiosidade esta que transparece em todas suas obras.

Alex Bohrer
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Honório Esteves

Pouca gente sabe, mas um dos maiores artistas mineiros do século XIX, Honório Esteves, nasceu em Santo Antônio do Leite, por volta de 1860. Conta-se que desde cedo manifestou seu gosto pela pintura, executando pequenos trabalhos e expondo-os em Ouro Preto. Em 1871 já estudava desenho com o professor Chenoti. No mesmo ano torna-se moedor de tintas do pintor ouropretano Cardoso Resende. Em 1873 continuou seus estudos no Liceu Mineiro. Em 1875 aperfeiçoou seu desenho com o professor Bernardino de Brito.

Em 1880, com apenas 20 anos, fez retoques no forro da capela-mor da Matriz de N. Sra. de Nazaré de Cachoeira do Campo, serviço primoroso que certamente lhe deu projeção e fama. Conta certa lenda que D. Pedro II, impressionado com a perícia do jovem pintor, concedeu-lhe bolsa de estudos no Rio de Janeiro, para onde rumou, consagrando-se como exímio artista. De retorno à sua terra, Santo Antônio do Leite, executou excelentes pinturas de forro na Igreja de Santo Antônio. Em Cachoeira, além da Matriz, há obras suas no Colégio D.Bosco e na Escola Estadual Pe. Afonso de Lemos. Na diretoria desta última está o belo quadro, de 1883, retratando o Pe. Afonso. Na parte inferior da pintura, a assinatura caprichosa de Honório Esteves.

Ainda há muito que se estudar sobre este grande artista. No começo da década de 80 foi organizada a exposição “Eu, Honório Esteves” no Museu Mineiro. A nossa população, porém, especialmente a de Santo Antônio do Leite, parece desconhecer este filho ilustre, que tantas obras de arte legou ao Brasil.

Alex Bohrer
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domingo, 4 de abril de 2010

O Chafariz de Dom Rodrigo de Menezes

Após o esmagamento da Revolta de Filipe dos Santos, em 1720, o Conde de Assumar propôs que se construíssem em Cachoeira um quartel e um palácio para os governadores de Minas, tendo em vista o ponto estratégico que Cachoeira era por excelência. O quartel seria construído já em 1720 e reconstruído em 1779. O Palácio dos Governadores foi construído em 1730 e ampliado em 1782 pelo governador Dom Rodrigo José de Menezes.

Em Cachoeira ainda pode-se visitar estas construções famosas, como o antigo quartel (hoje Centro Dom Bosco) e as ruínas do Palácio. Nestas ruínas se vêem as imensas muralhas do Lago do Governador (que foi considerado uma das principais obras de engenharia da época). O imenso lago podia armazenar 25 milhões de litros d’água! Possuía até mesmo, singrando suas águas calmas, uma pequena embarcação à vela de 7 metros de comprimento!

Pouco distante do lago - e ainda em uso - está a famosa Ponte do Palácio, construída no século XVIII para dar acesso ao Palácio. Possui 30 metros de comprimento e é toda feita de pedra. Esta ponte antecedia o portão de entrada do palácio e dava início aos caminhos que, de Cachoeira, demandavam à Vila Rica.

Em 1782 o mesmo governador - Dom Rodrigo de Menezes - mandou abrir uma nova e excelente estrada ligando o Palácio da Cachoeira ao de Ouro Preto. Esta estrada substituiu uma mais antiga, construída no cimo da serra, sendo, a partir da sua inauguração, usada como atalho - grande parte do caminho se faz em curva de nível, tornando-o menos árido, sinuoso e cansativo, especialmente entre José Henriques e a Pedra de Amolar .

Uma fantástica obra de engenharia colonial, a estrada de Dom Rodrigo oferece um passeio único pela imponente serra, outrora chamada Serra da Cachoeira (hoje mais comumente conhecida como Serra de Ouro Preto).

Para matar a sede dos viajantes, Dom Rodrigo mandou erguer um belo chafariz, onde ainda hoje se lê:

ESTA FONTE E ESTE CA[MINHO]
MANDOU FAZER O ILL[USTRÍSSIMO] E EX[ENLENTÍSSIMO] S[ENHOR]
D.RODRIGO JOSÉ DE MENEZES
G[OVERNADOR] E CAP[ITÃO] GEN[ERAL]
DESTA CAP[ITANIA] DE M[INAS] G[ERAIS]
EM 1782.

Este chafariz é o mesmo que matou a sede de Dom Pedro II no dia quatro de abril em 1881, quando seguia de Ouro Preto para Cachoeira do Campo e do qual ele deixa registro de próprio punho. Sem dúvida que também saciou a sede dos Inconfidentes de 1789, que usavam esta estrada, então recém construída, cotidianamente.

Tanto o chafariz quanto a nova e bela estrada, são frutos do empreendedorismo de Dom Rodrigo José de Meneses, governador dos mais atuantes do período colonial, dotado de bom senso e verdadeiro tino administrativo. Assim como este Caminho da Cachoeira, construiu outros mais, com fontes, pontes e inscrições. O Chafariz de Dom Rodrigo, contudo, continua sendo o mais conservado dos monumentos erguidos em lembrança ao velho governador.

Alex Bohrer
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