Após o esmagamento da Revolta de Filipe dos Santos, em 1720, o Conde de Assumar propôs ao rei de Portugal a transferência da capital para Cachoeira, por ser lugar mais aprazível e estratégico. Os planos de Assumar objetivavam ainda instalar aqui um amplo palácio e uma casa da moeda. A transferência completa nunca foi feita. Entre 1730 e 1733, contudo, foram construídos uma casa de campo e um quartel da cavalaria, no local onde hoje está o Colégio das Irmãs. A partir daí os governadores costumavam passar vários dias em Cachoeira, longe da turbulenta Vila Rica.
Em 1779, Dom Antônio de Noronha inaugurou o Quartel General da Cavalaria (o antigo Colégio Dom Bosco), alguns quilômetros distantes da casa de campo. Em 1782, Dom Rodrigo José de Meneses transformou essa casa de campo, agora desmembrada do quartel, numa construção imponente e espaçosa: o Palácio de Veraneio dos Governadores. Para dar acesso ao novo complexo foi construída uma sólida passagem, a célebre Ponte do Palácio. Deste lugar partia o Caminho de Dom Rodrigo, ligando Cachoeira do Campo a Ouro Preto (o que também facilitava sobremaneira o acesso à Comarca do Rio das Velhas, via Ponte de Ana de Sá, em Glaura). Quando o Visconde de Barbacena chegou nas Minas, em 1788, escolheu Cachoeira como sua residência oficial. O Palácio se tornaria célebre com o advento, um ano depois, da Inconfidência Mineira. Datam do século XIX os primeiros registros fotográficos da ponte - nestas fotografias é possível ver ainda os vestígios dos jardins e do pomar dos governadores.
Pela Ponte do Palácio passaram homens famosos como Dom Pedro I e seu filho, Pedro II, Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga, Saint-Hilaire, Johann Emanuel Pohl (que a descreve em 1819) e Manuel Bandeira. Hoje, o trânsito pesado da rodovia e o tráfego desrespeitoso de caminhões sobre a estrutura ameaçam esse patrimônio do município. As frágeis balizas de contenção são sempre colocadas e são sempre destruídas. Só há uma forma de evitar a lenta agonia desse bem: conscientização e fiscalização.
A Ponte do Palácio nunca sofreu reforma (com exceção dos parapeitos que foram reconstruídos na década de 1990). Seria muito oportuno um projeto paisagístico que valorizasse esse importante monumento brasileiro.
Alex Bohrer
------------------