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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

GUERRA EM CACHOEIRA

Talvez você já tenha ouvido falar que houve uma guerra em Cachoeira. Mas provavelmente se pergunte: aconteceu mesmo essa guerra? Quando? E que tipo de guerra era?

Vários documentos atestam os atritos entre portugueses e paulistas que culminaram com o episódio conhecido como Guerra dos Emboabas. Vários historiadores também se ocuparam com o tema. Os relatos mais minuciosos parecem ser os de Diogo de Vasconcelos e o do historiador cachoeirense João Baptista Costa. Vasconcelos dedica um capítulo especial à “Batalha da Cachoeira”, entrando em interessantes detalhes. João Baptista, porém, narra o episódio dentro do arraial com riqueza de informações, ora em forma de registro histórico, ora em forma romanceada, para o que deve ter se baseado em tradições orais (sobre a narrativa de João Baptista Costa, discorreremos em outra edição). Mas o que foi essa guerra que tanto despertou a imaginação dos historiadores mineiros?

Alegadamente os bandeirantes paulistas foram os descobridores das primeiras minas de ouro. As notícias sobre a riqueza repentina advinda da exploração do mineral espalharam-se rapidamente. Levas de imigrantes principiaram a chegar, não só de São Paulo, guiados pelos antigos caminhos bandeirantes, mas de todo o Brasil e Portugal. Os forasteiros, especialmente os portugueses, não eram vistos com bons olhos pelos paulistas. Estes, como descobridores das minas, julgavam-se usurpados do seu direito de exploração, que queriam, fosse exclusivo. Os paulistas não achavam justo ter que partilhar o fruto de suas descobertas.

O imaginário nacional idealizou a figura dos bandeirantes paulistas como intrépidos homens, bem vestidos, protegidos e armados. Mas isto não passa de idealização. Andavam nossos bandeirantes, em geral, descalços, com uma espécie de bermuda e muitas vezes descamisados. Entre as armas estavam o arco e flecha, herança dos índios. A língua era uma mistura de tupi com português. Os paulistas começaram a chamar os portugueses de emboabas, palavra indígena que significa “galinha calçuda”, uma alusão ao fato, estranho aos paulistas, dos portugueses usarem calças e botas!

Os primeiros atritos tiveram origem no Caeté, envolvendo o poderoso português Manuel Nunes Viana, que logo viria a se tornar o líder emboaba. Tanto paulistas quanto emboabas reivindicavam o direito de exploração. Não tardou muito e o conflito deu origem às escaramuças armadas que a historiografia consagrou como a Guerra dos Emboabas. Corria o ano de 1708.

Do Caeté, cada vez mais acuados, os paulistas vieram se refugiar em Cachoeira. Aqui prepararam-se para a grande batalha, fortificaram o arraial, cavaram trincheiras (que ainda podem ser vistas em algumas partes). Vindos pelo Amarante, seguindo o Rio Maracujá, os portugueses enfrentaram os paulistas numa batalha encarniçada, conhecida como Batalha da Cachoeira. Três dias depois os Emboabas expulsavam os paulistas do arraial. Consagraram a vitória na Matriz de Nazaré (então em construção), sagrando Manuel Nunes como Governador das Minas. Mas essa é uma outra história...



Alex Bohrer
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PADRE AFONSO DE LEMOS

Afonso Henriques de Figueiredo Lemos nasceu em Cachoeira do Campo em dezembro de 1847. Desconhecemos dados sobre sua infância, sabendo-se somente que desde cedo já possuía personalidade retraída. Ainda adolescente, ingressou no Seminário de Mariana, onde se ordenou sacerdote em 1871. Na ocasião foi nomeado pároco da antiga Freguesia de Rio das Pedras. Pouco depois, conseguiu transferência para sua querida Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, onde permaneceu por mais de 40 anos. Seu espírito empreendedor e seus esforços para tornar a educação acessível a todos foram reconhecidos pelo Bispo Dom Silvério - de quem se tornou amigo e companheiro em suas viagens à Roma (onde foi recebido pelo Papa Leão XIII) - e pelo Imperador Dom Pedro II que, visitando Cachoeira em 1881, conheceu sua obra.

Entre seus feitos estão: as primeiras campanhas pela educação pública de Cachoeira, que culminou com a fundação da escola que hoje leva seu nome; idealizou o Colégio Dom Bosco e o Colégio das Irmãs, conseguindo para isso a vinda dos salesianos; construiu a Igreja de Nossa Senhora das Mercês; conseguiu a instalação do primeiro telégrafo e posteriormente telefone.

Morreu em 03 de Setembro de 1911 em Hargreaves, próximo ao Trino (hoje Estação Dom Bosco). Uma multidão seguiu o cortejo que percorreu as principais ruas de Cachoeira. Padre Afonso foi sepultado em frente à capela-mor da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré. Por sua vida toda dedicada à comunidade, tornou-se figura muito querida e estimada, sendo até hoje lembrado com carinho pelos mais velhos.


Alex Bohrer
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OS CHAFARIZES DE CACHOEIRA

Água encanada em casa era um luxo a que se prestavam poucas fortunas. Em Cachoeira do Campo, somente umas três residências possuíam sistema de abastecimento interno, o resto da população se contentava com o baldeamento diário. Outrora, Cachoeira possuiu cerca de dez chafarizes. Por se localizarem, em algumas situações, no meio de ruas, impedindo a circulação de veículos motorizados, ou mesmo por desuso contínuo, eles foram desaparecendo. Somente três resistiram ao ataque do tempo e dos vândalos. São eles: o Chafariz da Praça, o Chafariz do Corte e o Chafariz de Pe.Afonso.

O Chafariz da Praça (ou dos Cavalos) é o mais antigo de todos. Situa-se na Praça Filipe dos Santos, próximo ao Cruzeiro de Pedra. Possui um grande tanque ladeado de pedra azul e uma bica. Tinha, em outros tempos, dois encaixes de ferro batido onde se apoiavam os baldes d’água. No tanque, os cavalos matavam a sede e descansavam das longas jornadas nas estradas poeirentas de Minas. Seu pináculo de pedra, visto em antigas fotos, infelizmente desapareceu.

O Chafariz do Corte fica nas proximidades da Igreja das Mercês, na encruzilhada do Tombadouro, no lugar chamado Corte. Esta água descia do Tombadouro por uma canalização rústica, feita de pedra e barro cozido, aberta em cortes nos quintais (o que provavelmente deu nome à fonte em questão). Conserva, gravado em pedra, o ano de 1876.

Situado no alto da Ladeira, o Chafariz de Pe.Afonso foi construído em 1877 às expensas do venerando sacerdote. Possui a forma de um pilar onde duas vertentes afloram de lados opostos, correndo a água a um tanque situado na parte inferior e que era usado como bebedouro para animais. Numa das faces do pilar há a enigmática inscrição: “1877 L.J.M.”.

Em 1913, quando foi inaugurada a canalização pública, os chafarizes foram desligados do velho encanamento de pedra e dos arroios coloniais e acoplados ao novo sistema. Com o tempo, entraram em desuso e foram desativados de vez.


Alex Bohrer
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A PONTE DO PALÁCIO

Após o esmagamento da Revolta de Filipe dos Santos, em 1720, o Conde de Assumar propôs ao rei de Portugal a transferência da capital para Cachoeira, por ser lugar mais aprazível e estratégico. Os planos de Assumar objetivavam ainda instalar aqui um amplo palácio e uma casa da moeda. A transferência completa nunca foi feita. Entre 1730 e 1733, contudo, foram construídos uma casa de campo e um quartel da cavalaria, no local onde hoje está o Colégio das Irmãs. A partir daí os governadores costumavam passar vários dias em Cachoeira, longe da turbulenta Vila Rica.

Em 1779, Dom Antônio de Noronha inaugurou o Quartel General da Cavalaria (o antigo Colégio Dom Bosco), alguns quilômetros distantes da casa de campo. Em 1782, Dom Rodrigo José de Meneses transformou essa casa de campo, agora desmembrada do quartel, numa construção imponente e espaçosa: o Palácio de Veraneio dos Governadores. Para dar acesso ao novo complexo foi construída uma sólida passagem, a célebre Ponte do Palácio. Deste lugar partia o Caminho de Dom Rodrigo, ligando Cachoeira do Campo a Ouro Preto (o que também facilitava sobremaneira o acesso à Comarca do Rio das Velhas, via Ponte de Ana de Sá, em Glaura). Quando o Visconde de Barbacena chegou nas Minas, em 1788, escolheu Cachoeira como sua residência oficial. O Palácio se tornaria célebre com o advento, um ano depois, da Inconfidência Mineira. Datam do século XIX os primeiros registros fotográficos da ponte - nestas fotografias é possível ver ainda os vestígios dos jardins e do pomar dos governadores.

Pela Ponte do Palácio passaram homens famosos como Dom Pedro I e seu filho, Pedro II, Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga, Saint-Hilaire, Johann Emanuel Pohl (que a descreve em 1819) e Manuel Bandeira. Hoje, o trânsito pesado da rodovia e o tráfego desrespeitoso de caminhões sobre a estrutura ameaçam esse patrimônio do município. As frágeis balizas de contenção são sempre colocadas e são sempre destruídas. Só há uma forma de evitar a lenta agonia desse bem: conscientização e fiscalização.

A Ponte do Palácio nunca sofreu reforma (com exceção dos parapeitos que foram reconstruídos na década de 1990). Seria muito oportuno um projeto paisagístico que valorizasse esse importante monumento brasileiro.

Alex Bohrer
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domingo, 3 de julho de 2011

Alex Bohrer lança o livro “Ouro Preto: Um Novo Olhar”

A cidade símbolo da liberdade no Brasil é um convite ao passado. Centenas de prédios históricos, ruas tortuosas e um relevo único tornaram Ouro Preto o primeiro lugar do país a ser declarado Patrimônio da Humanidade. A antiga capital de Minas é o emblema maior do período de ouro da Coroa Portuguesa, mas também se tornou sinônimo de rebeldia e revolta nos ideais dos Inconfidentes.

Ao lado de toda essa riqueza vista na sede, Ouro Preto é um município culturalmente rico, condizente com a vastidão de seu território, com diversos distritos e povoados, todos a contar a história da velha Vila Rica. E é justamente com esse foco que o historiador Alex Bohrer lança o livro “Ouro Preto: Um Novo Olhar”. Com as belas ilustrações de Adenilson José, esse livro era há muito esperado.

Ouro Preto é muito mais que seus casarões, museus e igrejas. Vários distritos e povoados se espalham pelo município e são repositórios da história do antigo Termo de Vila Rica, tão quanto a famosa sede. Era urgente uma releitura de Ouro Preto, um novo olhar sobre a célebre cidade do ouro.

Alex Bohrer, professor, ouro-pretano e cachoeirense (como gosta de afirmar), é conhecido pelos estudos que desenvolve sobre História de Minas Gerais e Arte Colonial. Atualmente é Professor Efetivo do IFMG (Instituto Federal de Minas Gerais). Possui diversos textos publicados sobre Barroco Mineiro e História de Ouro Preto, no Brasil e no exterior. Foi em hora precisa - 300 anos de Vila Rica - que a Prefeitura de Ouro Preto tornou possível, através da comissão comemorativa do tricentenário, a publicação dessa obra.

Nas páginas desse livro, o leitor descobrirá uma nova Ouro Preto, pungente e surpreendentemente inexplorada.

Prepare-se, então, para uma viagem única na história de Minas e do Brasil!
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Local: Auditório do Anexo do Museu da Inconfidência

Endereço: Rua Vereador Antonio Pereira, 33, Centro Histórico – Ouro Preto

Lançamento do livro e abertura da exposição com as ilustrações originais de Adenilson José: 09 de julho, às 19h

Período da exposição: 09 a 24 de julho

Horário de visitação: 12h às 18h, de terça a domingo



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sábado, 8 de maio de 2010

RODRIGO JOSÉ FERREIRA BRETAS

Você já ouviu falar em Rodrigo José Ferreira Bretas? Não?! Então nunca ouviu falar de uma das maiores personalidades mineiras do século XIX, o imortal biógrafo do Aleijadinho. Rodrigo J. F. Bretas nasceu em Cachoeira do Campo em 1815. Entre 1820 e 1839 alfabetiza-se e forma-se em humanidades nos Colégios do Caraça e Congonhas do Campo. Entre 1839 e 1844 leciona latim, filosofia e retórica em Barra Longa, Barbacena e Ouro Preto, além de ter sido nomeado Promotor Interino da Comarca. Em 1845 casa-se com Maria Cândida de Souza Maciel. Entre 1846 e 1849 funda e dirige um colégio em Bonfim do Paraopeba. Em 1850 é nomeado Oficial Maior da Secretaria do Governo da Província. Em 1852 é eleito deputado provincial, o primeiro de quatro mandatos. Em 1854 publica um livro sobre as origens das idéias do espírito humano. Em 1855 é agraciado com a nomeação de Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa. Em 1859 instala a Biblioteca Pública de Ouro Preto. Em 1861 é nomeado Inspetor da Instrução Pública em Ouro Preto e em 1862 assume da direção do Colégio de Congonhas. Além de professor e político Rodrigo Bretas foi um iminente inventor, criando e aperfeiçoando um novo e prático tear mecânico. Faleceu em 27 de agosto de 1866.

Em 1858 Bretas concluiu sua obra mais famosa: a primeira biografia do Aleijadinho, o que lhe valeu a eleição de sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Nesta biografia Bretas resgata para a posteridade a vida e as obras do famoso Mestre do Barroco Mineiro. Valeu-se de documentos e de entrevistas realizadas com idosos que haviam conhecido o Aleijadinho em vida, entre eles Joana, a nora do escultor. Por tudo isso Rodrigo Bretas é justamente reconhecido com um dos maiores vultos mineiros do século XIX e, sem dúvida, um dos mais importantes filhos de Cachoeira.

Alex Bohrer
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segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho

A Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho possui uma história envolta em lendas e em parte obscura. Não foram até hoje encontradas datas referentes à sua construção propriamente dita. O famoso historiador Augusto de Lima Júnior acreditava que a referida capela foi o local da sagração de Manuel Nunes Viana como o primeiro governador das Minas durante a Guerra dos Emboabas, em 1708. Argumentava Augusto de Lima que a Capela do Bom Despacho servia naquela época como matriz, enquanto a rica Igreja de Nazaré estava sendo construída na parte alta de Cachoeira. A localização da capela na parte mais baixa, próxima ao Rio Maracujá, também pode denotar sua grande antigüidade por ser, no começo do século XVIII, o local mais cômodo a se construir. O certo é que sua arquitetura externa mostra ser uma construção de meados do século XVIII. Os sinos possuem as datas de 1855 e 1866, sendo comum os sinos serem mais novos que o restante da igreja.

Dão acesso à capela uma velha escadaria de pedra e uma larga porta encimada por duas sacadas com lindo gradil de ferro batido. O frontispício é alto, porém, simples, típico das capelas do gênero, e é encimado por uma cruz de ferro sobre o crescente. Em uma das laterais há uma sacristia com telhado de duas águas que, pelo estilo, é uma ampliação do final do século XIX ou início do século XX, o que faz supor que a capela sofreu uma grande restauração ou reconstrução. Esta restauração provavelmente confundiu Lúcio Fernandes Ramos que em seu livro sobre a História de Cachoeira erroneamente atribui a data de 1908 à construção da capela. Interiormente possui três altares de madeira lindamente pintados com anjos e ornatos diversos. Estes altares são de difícil classificação e datação por não se enquadrarem em nenhum estilo puro. Possui entre outras raridades, uma curiosa imagem se São Pedro, um púlpito móvel e ainda um interessante missário do século XIX. A velhíssima imagem de Nossa Senhora do Bom Despacho - padroeira das parturientes - relatada por Augusto de Lima não mais se encontra no altar-mor.

Estranha o visitante moderno o fato da capela possuir duas sacadas no frontispício e interiormente não possuir coro, o que faz as sacadas parecerem inúteis. O fato é que até há alguns anos atrás existia um primitivo coro de madeira que ruiu. Ao que parece, devia ser em tudo semelhante ao ainda existente na capela de N.Sra. das Dores. Seria interessante reconstruir o coro e reutilizar as sacadas.

Há ainda a lenda de que a capela que aparece ao fundo do famoso quadro de Antônio Parreiras (século XIX) sobre o julgamento de Filipe dos Santos seja a Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho. Verdade ou não, a semelhança é grande.

Enfim, a Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho é uma relíquia da História de Cachoeira do Campo que precisa ser restaurada e conservada.

Alex Bohrer
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domingo, 4 de abril de 2010

O Chafariz de Dom Rodrigo de Menezes

Após o esmagamento da Revolta de Filipe dos Santos, em 1720, o Conde de Assumar propôs que se construíssem em Cachoeira um quartel e um palácio para os governadores de Minas, tendo em vista o ponto estratégico que Cachoeira era por excelência. O quartel seria construído já em 1720 e reconstruído em 1779. O Palácio dos Governadores foi construído em 1730 e ampliado em 1782 pelo governador Dom Rodrigo José de Menezes.

Em Cachoeira ainda pode-se visitar estas construções famosas, como o antigo quartel (hoje Centro Dom Bosco) e as ruínas do Palácio. Nestas ruínas se vêem as imensas muralhas do Lago do Governador (que foi considerado uma das principais obras de engenharia da época). O imenso lago podia armazenar 25 milhões de litros d’água! Possuía até mesmo, singrando suas águas calmas, uma pequena embarcação à vela de 7 metros de comprimento!

Pouco distante do lago - e ainda em uso - está a famosa Ponte do Palácio, construída no século XVIII para dar acesso ao Palácio. Possui 30 metros de comprimento e é toda feita de pedra. Esta ponte antecedia o portão de entrada do palácio e dava início aos caminhos que, de Cachoeira, demandavam à Vila Rica.

Em 1782 o mesmo governador - Dom Rodrigo de Menezes - mandou abrir uma nova e excelente estrada ligando o Palácio da Cachoeira ao de Ouro Preto. Esta estrada substituiu uma mais antiga, construída no cimo da serra, sendo, a partir da sua inauguração, usada como atalho - grande parte do caminho se faz em curva de nível, tornando-o menos árido, sinuoso e cansativo, especialmente entre José Henriques e a Pedra de Amolar .

Uma fantástica obra de engenharia colonial, a estrada de Dom Rodrigo oferece um passeio único pela imponente serra, outrora chamada Serra da Cachoeira (hoje mais comumente conhecida como Serra de Ouro Preto).

Para matar a sede dos viajantes, Dom Rodrigo mandou erguer um belo chafariz, onde ainda hoje se lê:

ESTA FONTE E ESTE CA[MINHO]
MANDOU FAZER O ILL[USTRÍSSIMO] E EX[ENLENTÍSSIMO] S[ENHOR]
D.RODRIGO JOSÉ DE MENEZES
G[OVERNADOR] E CAP[ITÃO] GEN[ERAL]
DESTA CAP[ITANIA] DE M[INAS] G[ERAIS]
EM 1782.

Este chafariz é o mesmo que matou a sede de Dom Pedro II no dia quatro de abril em 1881, quando seguia de Ouro Preto para Cachoeira do Campo e do qual ele deixa registro de próprio punho. Sem dúvida que também saciou a sede dos Inconfidentes de 1789, que usavam esta estrada, então recém construída, cotidianamente.

Tanto o chafariz quanto a nova e bela estrada, são frutos do empreendedorismo de Dom Rodrigo José de Meneses, governador dos mais atuantes do período colonial, dotado de bom senso e verdadeiro tino administrativo. Assim como este Caminho da Cachoeira, construiu outros mais, com fontes, pontes e inscrições. O Chafariz de Dom Rodrigo, contudo, continua sendo o mais conservado dos monumentos erguidos em lembrança ao velho governador.

Alex Bohrer
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sábado, 3 de abril de 2010

TRÊS SÉCULOS ANTES

Corria o ano de Nosso Senhor de 1675. As levas de aventureiros chegavam aos montões, vindas pelo Velhas, desde Sabará até os campos abertos. Milhares de homens brancos, negros e índios salpicavam o cerrado. Era uma massa colorida, de semblantes e linguajar variados, todos unidos no sonho do eldorado.

A Bandeira contornou o Rio Maracujá, com suas belas quedas que despencavam em direção ao Tijuco, e seguiu adiante. No alforje do líder uma bússola de marfim, pólvora e mapas amarelados conviviam com o cheiro forte do coro molhado. A noite passou sem sobressaltos. Pela manhã, fincou-se cruz à margem do ribeiro. Missa improvisada pelo cansado frade da expedição. As brumas matutinas se dissiparam. À frente de todos estava a aprazível colina.

_Não, cá no baixo não! Que levantemos nossa ermida no alto, perto de Deus!

Foram cortando a mata - que ali, e na montanha vizinha, era espessa - e subiram. No cume, uma acanhada planície os esperava. Era o lugar ideal para a capelinha. Erigiram-na de madeira, barro e suor. No teto, sapê. No altar singelo, entronizaram a relíquia do grupo: a pequenina imagem de Nossa Senhora de Nazaré, vinda desde São Paulo, em sua casinha dourada. Novamente, missa. Mas, dessa vez, missa descansada. Haviam encontrado lugar e paragem.

Ouro? No Sabarabuçu, agora distante deles dezenas de léguas, o chão cuspia o metal amarelado aos borbotões. Mas, aqui, na terra vermelha, não sabiam. Iam é plantar - e roça de milho devastou o pé da serra. Ali haveriam de estar, pelo menos por enquanto. Os paulistas eram seres irrequietos, transeuntes das matas. Viviam de déu em déu.

Passados alguns anos, ouro! Ouro no Santo Antônio da Casa Branca, no Arraial do Apóstolo São Bartolomeu, nas fraldas da Serra do Ouro Preto, no Ribeirão do Carmo, nas lavras de Antônio Pereira. A região foi novamente invadida por gente de toda parte: Portugal mandou seus filhos do norte, do Douro e Minho; da África vieram os escravos congos, benguelas e os minas; hábeis artífices franceses e livreiros de Flandres foram arrastados neste turbilhão; Chineses do Macau, dos confins de tudo, vinham de mil léguas; Espanhóis clandestinos traziam prata das minas americanas de Potosí e do Peru.

O pequeno arraial, com sua capelinha, conviveria, a partir de agora, com esses forasteiros, apelidados de Emboabas, portugueses em sua maioria. Brigas com eles haveriam de vir. Escaramuças, a Guerra e, por fim, a grande expulsão dos primeiros paulistas. Foram portugueses que, em 1710, há 300 anos, bendizeram o começo da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré dos Campos da Cachoeira. Em torno da primitiva ermida começaram a erguer sua majestosa Igreja Matriz. Dos antigos exploradores, chegados no último quartel dos anos 1600, respeitaram a escolha da padroeira - Senhora de Nazaré - e o velho topônimo, dado pelas cascatas ruidosas da região e pelo cerrado: Cachoeira do Campo.

Alex Bohrer
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