A Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho possui uma história envolta em lendas e em parte obscura. Não foram até hoje encontradas datas referentes à sua construção propriamente dita. O famoso historiador Augusto de Lima Júnior acreditava que a referida capela foi o local da sagração de Manuel Nunes Viana como o primeiro governador das Minas durante a Guerra dos Emboabas, em 1708. Argumentava Augusto de Lima que a Capela do Bom Despacho servia naquela época como matriz, enquanto a rica Igreja de Nazaré estava sendo construída na parte alta de Cachoeira. A localização da capela na parte mais baixa, próxima ao Rio Maracujá, também pode denotar sua grande antigüidade por ser, no começo do século XVIII, o local mais cômodo a se construir. O certo é que sua arquitetura externa mostra ser uma construção de meados do século XVIII. Os sinos possuem as datas de 1855 e 1866, sendo comum os sinos serem mais novos que o restante da igreja.
Dão acesso à capela uma velha escadaria de pedra e uma larga porta encimada por duas sacadas com lindo gradil de ferro batido. O frontispício é alto, porém, simples, típico das capelas do gênero, e é encimado por uma cruz de ferro sobre o crescente. Em uma das laterais há uma sacristia com telhado de duas águas que, pelo estilo, é uma ampliação do final do século XIX ou início do século XX, o que faz supor que a capela sofreu uma grande restauração ou reconstrução. Esta restauração provavelmente confundiu Lúcio Fernandes Ramos que em seu livro sobre a História de Cachoeira erroneamente atribui a data de 1908 à construção da capela. Interiormente possui três altares de madeira lindamente pintados com anjos e ornatos diversos. Estes altares são de difícil classificação e datação por não se enquadrarem em nenhum estilo puro. Possui entre outras raridades, uma curiosa imagem se São Pedro, um púlpito móvel e ainda um interessante missário do século XIX. A velhíssima imagem de Nossa Senhora do Bom Despacho - padroeira das parturientes - relatada por Augusto de Lima não mais se encontra no altar-mor.
Estranha o visitante moderno o fato da capela possuir duas sacadas no frontispício e interiormente não possuir coro, o que faz as sacadas parecerem inúteis. O fato é que até há alguns anos atrás existia um primitivo coro de madeira que ruiu. Ao que parece, devia ser em tudo semelhante ao ainda existente na capela de N.Sra. das Dores. Seria interessante reconstruir o coro e reutilizar as sacadas.
Há ainda a lenda de que a capela que aparece ao fundo do famoso quadro de Antônio Parreiras (século XIX) sobre o julgamento de Filipe dos Santos seja a Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho. Verdade ou não, a semelhança é grande.
Enfim, a Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho é uma relíquia da História de Cachoeira do Campo que precisa ser restaurada e conservada.
Alex Bohrer
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