segunda-feira, 12 de abril de 2010

Manuel da Costa Ataíde: Arte e Música

Manuel da Costa Ataíde nasceu em Mariana em 1762, sendo batizado na Sé Catedral em 18 de outubro daquele ano. Na mesma igreja foi crismado em 16 de maio de 1780. Era filho legítimo do Alferes Luis da Costa Ataíde e de sua mulher Maria Barbosa de Abreu. Seguindo a carreira militar do pai (alferes era posto que hoje corresponderia a Segundo Tenente), em 1797 foi nomeado para exercer o cargo de Sargento das Ordenanças no Arraial do Bacalhau (atualmente um distrito de Piranga). Em 1799, no povoado de Mombaça (então Termo de Mariana), registrou a patente de alferes, mesma categoria de seu pai. Como militar atuou, pela mesma época, no Arraial de São Bartolomeu (atual distrito de Ouro Preto). Em 1809 lhe foi concedida a patente de Alferes da Companhia das Ordenanças do distrito de Soledade, que fazia parte do Termo de Vila Rica.

Paralelamente à sua carreira de militar, cultivou desde cedo o gosto pelas artes, especialmente a pintura. Atuou na região de Piranga e fez trabalhos na Matriz de São Bartolomeu, o que mostra concomitância de suas ocupações. Tão exímio pintor se tornou que, sendo reconhecido em vida pelos seus, chegou a solicitar permissão para abrir uma escola de pintura em Mariana para ministrar “Aula de Desenho de Arquitetura Civil e Militar e da Arte da Pintura”. Sua fama, contudo, não deve ter perpetrado as fronteiras mineiras, não chegando à Corte Carioca: seu pedido infelizmente foi negado. Antes desta frustrante resposta, entretanto, já havia recebido em 1818, do Senado da Câmara de Mariana, um atestado de professor das “Artes de Arquitetura e Pintura”.

Não se sabe como ocorreu sua formação e introdução no mundo da produção artística mineira. O certo é que, alem de pintor, era dourador e encarnava imagens. Começou a atuar no período das criações de influência rococó e, como todos seus contemporâneos, seguiu modelos segundo fontes européias. Uma marca registrada em suas obras era a representação de anjos mulatos e sua predileção por temas musicais. Nas pinturas de Ataíde encontramos várias partituras musicais, anjinhos músicos, orquestras celestes etc. Mesmo considerando que este tipo de representação musical encontre antecedentes na Europa, isto é muito mais interessante na obra de Ataíde, posto que o mesmo possuía instrumentos musicais (como vemos em seu inventário post mortem). Em vista disso, é muito provável que nosso artista fosse realmente um músico.

O grande pintor marianense atuou em Ouro Preto (fartamente), Piranga, Itaverava, São Bartolomeu, Conceição do Mato Dentro, Santa Bárbara, Ouro Branco, Catas Altas (do Mato Dentro), Congonhas, entre outras. Na sua cidade natal executou uma obra de vulto: o forro da capela-mor da Igreja do Rosário dos Pretos. Na sacristia da igreja em que está sepultado (São Francisco) concebeu os painéis de forro. Atuou também, em serviços diversos, na Igreja do Carmo, na Sé, em outros pormenores da São Francisco e na Câmara (nesta última executou um retrato de Dom Pedro I).

Ataíde faleceu em 2 de fevereiro de 1830 e foi sepultado na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis de Mariana, da qual era irmão. Segundo seu testamento era também irmão das Ordens Terceiras do Carmo e de São Francisco de Assis de Ouro Preto e de várias outras irmandades, o que bem atesta sua religiosidade - religiosidade esta que transparece em todas suas obras.

Alex Bohrer
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