No último quartel do XVIII, Vila Rica, a grande e bela urbe do século mineiro, tinha contornos distintivos de cidade (apesar de, oficialmente, não ostentar este título), com praças, chafarizes, ruas pavimentadas e, claro, pontes (agora não mais aquelas rústicas pontes de madeira ou toscamente construídas de pedra, mas pontes importantes, de cantaria, pontes - conforme o poema de Tomás Antônio Gonzaga - ‘formosas’!) Para alem do caráter prático, as pontes vilarriquenhas foram concebidas segundo delineamentos estéticos definidos, sendo elevadas a pontos de contato, convivência social, locais privilegiados de conversas ao ar livre e, não raro, flertes: como bem atestam os versos árcades de Gonzaga e os patamares de pedra que em várias delas servem de assento.
As antigas pontes ouro-pretanas dignas de nota são a do Rosário, a dos Contos, a de Marilia, a do Funil (que conduzia à Estação Ferroviária); a da Barra, sobre o Ribeirão Funil, datada de 1806; a do Padre Faria, erguida em 1750; a de Ouro Preto (ou do Pilar), edificada em 1757; a Ponte Seca, aterro que unia os fundos do Pilar ao Rosário; a do Palácio Velho, que ligava a Praça de Antônio Dias às encostas da Encardideira.
A Ponte da Encardideira (ou do Palácio Velho) era uma via de acesso que, da Igreja Matriz de Antônio Dias atingia as íngremes encostas auríferas, na base dos morros de Ouro Preto, encostas chamadas então de “encardideira”, local de muitas e riquíssimas minas d’ouro (entre elas as do lendário Chico Rei, monarca negro em terras Geralistas). A Ponte da Encardideira, arquitetonicamente menos elaborada que outras da antiga vila, tinha, contudo, papel importante quando a região era povoada de lavras às margens do Córrego Sobreira, cujo leito ela atravessa. Foi nas proximidades desta ponte (ou de alguma sua predecessora) que se ergueu o primitivo Palácio dos Governadores, construído bem antes do que dominou, a partir de meados do século XVIII, o Morro de Santa Quitéria.
É certo que desde os princípios do século XVIII fez-se necessário a construção de uma ponte naquele local estratégico, todavia esta ponte primitiva deveria ter a aparência de todas as outras do período: estrutura de madeira ou mista. Foi só a partir da terceira década do século XVIII que começaram a aparecer as primeiras sólidas pontes de pedra, caso, ao que parece, desta ponte que atualmente se vê sobre o Córrego Sobreira.
Alex Bohrer
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