quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O CAVALEIRO DE VASCONCELOS

Era uma sexta-feira de quaresma. João fez o que fazia sempre. Saiu da casa da namorada altas horas da noite. Esfregou as mãos. Esfregou as mãos no nariz. Cuspiu. Montou seu velho cavalo. Cumprido o ritual, acenou pra namorada e partiu. Sua namorada morava em Rodrigo Silva. Ele não. João morava no Vasconcelos, uma paragem distante uns dois quilômetros dali. Seu cavalo já conhecia o caminho e, se já conhecia, João podia se distrair, pensar pensamentos bobos. Então lá foi ele pensando pensamentos bobos. Todo mundo ali falava do tal do cavaleiro misterioso que rondava as estradas na quaresma, mas isso é coisa de bobo:

__Ah, isso é conversa pra boi dormir!

Ele tinha retrucado sua sogra, sim senhor!

__Vê-se lá, cavaleiro! Assombração é coisa de bobo!

É, mas a coragem de João durou até o momento em que ele viu aquele cavalo preto na encruzilhada, na saída do povoado. O cavalo ainda ia lá, mas o cavaleiro... Era um toco de homem, usava uma capa comprida, preta. João parou. O cavaleiro estava na sua passagem. Existiam dois caminhos para se chegar em casa: um pela estrada de terra (que era seu preferido), outro pela linha, a estrada de ferro. Raspou a goela e tomou rumo. Acima da estrada, seguiu pela linha. Acelerou o trote. A ventania das montanhas cortou seu rosto, levando sua coragem.

Da estrada de ferro era possível ver a estrada de terra lá embaixo. Com muito medo, João olhou. Aquele cavaleiro o estava seguindo lá de baixo. Corria com seu imponente cavalo negro, cheio de enfeites. A sua capa ondulava com o vento. Mas seu rosto era mistério. João correu como um louco, o coração na boca. Para chegar à sua casa tinha de sair da estrada de ferro e atravessar a estrada de terra mais uma vez. Isto significava que ia dar de cara com o cavaleiro de novo. Aproximou devagar da encruzilhada. Olhou de um lado e do outro. Nada. Silêncio. Pôs a mão em concha no ouvido. Nem sinal de galope. Meteu as esporas no cavalo e atravessou a estrada. Abriu a porteira, já gritando sua mãe. Desceu de qualquer jeito do cavalo. Suas pernas estavam pesadas de medo. Abriu a porta. Quando, já dentro de casa, virou-se para fechar a tramela, ele quase caiu pra trás. A cabeça negra do cavalo misterioso estava impedindo que ele puxasse o trinco! E depois apareceu o braço do cavaleiro, com uma longa luva, também negra. João rezou, não ia conseguir fechar a porta. Falou o nome de tantos santos quanto pôde, de todos que se lembrava, até do esquecido São Pedro de "Catigerona", lá da capelinha de Rodrigo Silva. E, de repente, fez-se silêncio. A porta estava livre. Tudo estava calmo. Sua mãe apareceu e fechou a porta, perguntando o porquê da gritaria.

Conta-se que João dormiu vários dias debaixo da cama, com medo. Nunca mais namorou e nem saiu do Vasconcelos de noite. Depois contaram pra ele que o Cavaleiro de Vasconcelos era a alma penada de um homem que havia morrido por ali há muitos anos, numa guerra. Desde então patrulhava as noites de quaresma, em busca de intrusos na guerra que, para ele, nunca acabou. Até hoje, dizem os mais velhos, quando todo mundo já está dormindo, pode-se ouvir o trotear do seu cavalo a atravessar a rua, indo pro Vasconcelos, ocupar seu posto eterno.


Alex Bohrer
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GUERRA EM CACHOEIRA

Talvez você já tenha ouvido falar que houve uma guerra em Cachoeira. Mas provavelmente se pergunte: aconteceu mesmo essa guerra? Quando? E que tipo de guerra era?

Vários documentos atestam os atritos entre portugueses e paulistas que culminaram com o episódio conhecido como Guerra dos Emboabas. Vários historiadores também se ocuparam com o tema. Os relatos mais minuciosos parecem ser os de Diogo de Vasconcelos e o do historiador cachoeirense João Baptista Costa. Vasconcelos dedica um capítulo especial à “Batalha da Cachoeira”, entrando em interessantes detalhes. João Baptista, porém, narra o episódio dentro do arraial com riqueza de informações, ora em forma de registro histórico, ora em forma romanceada, para o que deve ter se baseado em tradições orais (sobre a narrativa de João Baptista Costa, discorreremos em outra edição). Mas o que foi essa guerra que tanto despertou a imaginação dos historiadores mineiros?

Alegadamente os bandeirantes paulistas foram os descobridores das primeiras minas de ouro. As notícias sobre a riqueza repentina advinda da exploração do mineral espalharam-se rapidamente. Levas de imigrantes principiaram a chegar, não só de São Paulo, guiados pelos antigos caminhos bandeirantes, mas de todo o Brasil e Portugal. Os forasteiros, especialmente os portugueses, não eram vistos com bons olhos pelos paulistas. Estes, como descobridores das minas, julgavam-se usurpados do seu direito de exploração, que queriam, fosse exclusivo. Os paulistas não achavam justo ter que partilhar o fruto de suas descobertas.

O imaginário nacional idealizou a figura dos bandeirantes paulistas como intrépidos homens, bem vestidos, protegidos e armados. Mas isto não passa de idealização. Andavam nossos bandeirantes, em geral, descalços, com uma espécie de bermuda e muitas vezes descamisados. Entre as armas estavam o arco e flecha, herança dos índios. A língua era uma mistura de tupi com português. Os paulistas começaram a chamar os portugueses de emboabas, palavra indígena que significa “galinha calçuda”, uma alusão ao fato, estranho aos paulistas, dos portugueses usarem calças e botas!

Os primeiros atritos tiveram origem no Caeté, envolvendo o poderoso português Manuel Nunes Viana, que logo viria a se tornar o líder emboaba. Tanto paulistas quanto emboabas reivindicavam o direito de exploração. Não tardou muito e o conflito deu origem às escaramuças armadas que a historiografia consagrou como a Guerra dos Emboabas. Corria o ano de 1708.

Do Caeté, cada vez mais acuados, os paulistas vieram se refugiar em Cachoeira. Aqui prepararam-se para a grande batalha, fortificaram o arraial, cavaram trincheiras (que ainda podem ser vistas em algumas partes). Vindos pelo Amarante, seguindo o Rio Maracujá, os portugueses enfrentaram os paulistas numa batalha encarniçada, conhecida como Batalha da Cachoeira. Três dias depois os Emboabas expulsavam os paulistas do arraial. Consagraram a vitória na Matriz de Nazaré (então em construção), sagrando Manuel Nunes como Governador das Minas. Mas essa é uma outra história...



Alex Bohrer
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A PONTE DE ANA DE SÁ

Ao viajante que quisesse atingir as Minas do Sabará, na Comarca do Rio das Velhas, vindo de Cachoeira do Campo, Vila Rica ou Capão do Lana, o caminho mais recomendado e utilizado era o que passava por Casa Branca, atingia o Rio das Pedras, o Rio Acima, as Congonhas do Sabará e, finalmente, Sabará. Em 1732 escreveu Francisco Tavares de Brito sobre estes percursos: “seguem-se Pouso dos Ilhéus, Lana e daqui se toma mão esquerda a quem quer ir caminho direto para Vila Real [Vila Real do Sabará] e se vai pela Cachoeira à vista da Casa Branca, buscar a passagem do Garavato”. Há grande possibilidade desta ‘passagem do Garavato’ ser os fundos dos vales desta ampla região que hoje divide os municípios de Itabirito e Ouro Preto.

Para vencer o Rio das Velhas no seu primeiro encontro com a dita estrada, foi erigida, a poucos quilômetros do centro do Arraial da Casa Branca, numa baixada muito peculiar, a famosa Ponte de Ana de Sá. Construída de pedra e madeira (como é até hoje, apesar da introdução em algumas partes de concreto e ferro), esta ponte vence o rio em dois lances: o primeiro leva o madeirame para uma ilha de pedra, natural, bem no meio do aguaceiro; o segundo leva da ilha à outra margem da estrada, já próximo à subida para vencer o vale. Poucos quilômetros acima dessa ponte, em direção a Casa Branca e Soares, ergueu-se, já em princípios do século XVIII, o povoado de Ana de Sá, com sua venda, estalagem e capela.

O topônimo ‘Ana de Sá’, posto que muito antigo, é certamente lembrança dos primeiros habitantes das Minas. Especialmente nesta região abundam nomes pessoais ou sobrenomes na toponímia local: Soares, José Henriques, Maciel, Sérgio, Lana, Mota, Paiva, Fernandes, Catarina Mendes etc.

Tal ponte era passagem obrigatória aos viajantes, tendo recebido a visita e a menção de alguns ilustres personagens do século XIX, como os cientistas naturalistas Auguste de Saint-Hilaire, Spix e Martius, alem de nosso imperador Dom Pedro II.


Alex Bohrer
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RODRIGO SILVA

Os primeiros registros relativos ao local denominado José Correia sempre estão ligados à Santa Quitéria do Alto da Boa Vista, antigo povoado colonial, hoje quase abandonado, nas proximidades de Rodrigo Silva. A mineração de topázio sempre esteve presente na história do lugar. Viajantes estrangeiros já relatavam a exploração de topázio no início do século XIX. Algumas destas lavras eram gigantescas, empregando centenas de escravos.

Até a chegada dos ferroviários, José Correia compunha-se de fazendas espalhadas por léguas de distância. A mais famosa delas é a Fazenda do Fundão, ainda existente. Nesta fazenda nasceu, em 1870, Alfredo Fernandes dos Prazeres, personagem importante na construção da nova cidadezinha ferroviária. Quando, no começo da década de 1880, fez-se o projeto da estrada de ferro ligando o Rio de Janeiro à Ouro Preto, projetou-se também uma nova paragem a se estabelecer em José Correia, que teria depois seu nome mudado para Rodrigo Silva, em homenagem a um ministro imperial. O complexo ferroviário - inaugurado por Dom Pedro II em 1888 - estendeu-se posteriormente de um lado a outro, paralelo à estrada de ferro. Esta conformação urbana em torno da antiga ferrovia deu a feição atual do arruamento, que, grosso modo, se estende por uma larga e comprida rua principal paralela aos trilhos. Desta rua principal partem pequenas ruelas ou becos que atingiam, outrora, sítios e fazendas, nos fundos dos vales.

No começo do século XX fundou-se a Sociedade Musical Santa Cecília de Rodrigo Silva, símbolo primeiro da cultura desenvolvida pelos ferroviários. No arquivo desta banda encontram-se composições feitas por estes trabalhadores, demonstração de grande apuro musical.

Hoje, nos trilhos de Rodrigo Silva não passam mais trens, mas a cultura do topázio continua, com a exploração do famoso topázio imperial, raríssimo.

O distrito, propriamente dito, foi criado pela Lei nº 2.764, de 30 de dezembro de 1962, com território desmembrado do distrito sede.


Alex Bohrer
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PADRE AFONSO DE LEMOS

Afonso Henriques de Figueiredo Lemos nasceu em Cachoeira do Campo em dezembro de 1847. Desconhecemos dados sobre sua infância, sabendo-se somente que desde cedo já possuía personalidade retraída. Ainda adolescente, ingressou no Seminário de Mariana, onde se ordenou sacerdote em 1871. Na ocasião foi nomeado pároco da antiga Freguesia de Rio das Pedras. Pouco depois, conseguiu transferência para sua querida Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, onde permaneceu por mais de 40 anos. Seu espírito empreendedor e seus esforços para tornar a educação acessível a todos foram reconhecidos pelo Bispo Dom Silvério - de quem se tornou amigo e companheiro em suas viagens à Roma (onde foi recebido pelo Papa Leão XIII) - e pelo Imperador Dom Pedro II que, visitando Cachoeira em 1881, conheceu sua obra.

Entre seus feitos estão: as primeiras campanhas pela educação pública de Cachoeira, que culminou com a fundação da escola que hoje leva seu nome; idealizou o Colégio Dom Bosco e o Colégio das Irmãs, conseguindo para isso a vinda dos salesianos; construiu a Igreja de Nossa Senhora das Mercês; conseguiu a instalação do primeiro telégrafo e posteriormente telefone.

Morreu em 03 de Setembro de 1911 em Hargreaves, próximo ao Trino (hoje Estação Dom Bosco). Uma multidão seguiu o cortejo que percorreu as principais ruas de Cachoeira. Padre Afonso foi sepultado em frente à capela-mor da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré. Por sua vida toda dedicada à comunidade, tornou-se figura muito querida e estimada, sendo até hoje lembrado com carinho pelos mais velhos.


Alex Bohrer
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OS CHAFARIZES DE CACHOEIRA

Água encanada em casa era um luxo a que se prestavam poucas fortunas. Em Cachoeira do Campo, somente umas três residências possuíam sistema de abastecimento interno, o resto da população se contentava com o baldeamento diário. Outrora, Cachoeira possuiu cerca de dez chafarizes. Por se localizarem, em algumas situações, no meio de ruas, impedindo a circulação de veículos motorizados, ou mesmo por desuso contínuo, eles foram desaparecendo. Somente três resistiram ao ataque do tempo e dos vândalos. São eles: o Chafariz da Praça, o Chafariz do Corte e o Chafariz de Pe.Afonso.

O Chafariz da Praça (ou dos Cavalos) é o mais antigo de todos. Situa-se na Praça Filipe dos Santos, próximo ao Cruzeiro de Pedra. Possui um grande tanque ladeado de pedra azul e uma bica. Tinha, em outros tempos, dois encaixes de ferro batido onde se apoiavam os baldes d’água. No tanque, os cavalos matavam a sede e descansavam das longas jornadas nas estradas poeirentas de Minas. Seu pináculo de pedra, visto em antigas fotos, infelizmente desapareceu.

O Chafariz do Corte fica nas proximidades da Igreja das Mercês, na encruzilhada do Tombadouro, no lugar chamado Corte. Esta água descia do Tombadouro por uma canalização rústica, feita de pedra e barro cozido, aberta em cortes nos quintais (o que provavelmente deu nome à fonte em questão). Conserva, gravado em pedra, o ano de 1876.

Situado no alto da Ladeira, o Chafariz de Pe.Afonso foi construído em 1877 às expensas do venerando sacerdote. Possui a forma de um pilar onde duas vertentes afloram de lados opostos, correndo a água a um tanque situado na parte inferior e que era usado como bebedouro para animais. Numa das faces do pilar há a enigmática inscrição: “1877 L.J.M.”.

Em 1913, quando foi inaugurada a canalização pública, os chafarizes foram desligados do velho encanamento de pedra e dos arroios coloniais e acoplados ao novo sistema. Com o tempo, entraram em desuso e foram desativados de vez.


Alex Bohrer
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A IGREJA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS DE MIGUEL BURNIER

A construção que mais se destaca em Miguel Burnier é, sem sombra de dúvida, sua bela igreja. Com o ímpeto do crescimento de princípios do século XX, as pequeninas e esparsas capelas do XVIII e XIX não comportaram mais os ofícios sagrados, tamanho o número de fiéis no distrito, que então passava por uma fase de expansão considerável. Coube ao grande empreendedor e benfeitor de Miguel Burnier - Carlos Wigg - o mérito da criação do espaçoso templo do Sagrado Coração de Jesus, ou melhor, o mérito coube à sua mulher, católica fervorosa, Alice da Silveira Wigg. Esta igreja foi inaugurada em 1934 em meio a várias comemorações. Neste mesmo ano, a capelinha de São Julião foi demolida, sendo a imagem, logo em seguida, transportada para o novo edifício.

Passados mais de 70 anos de sua construção, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus ainda impressiona pela suntuosidade. A edificação absorveu vários estilos, adaptando-os. Contudo, o estilo que mais se sobressai é o neo-românico, redescoberto desde o século XIX na Europa e transformado, consecutivamente, em modismo internacional. Tal tipologia era grandemente influenciada pelos templos medievais românicos.

Excluindo-se a torre sineira, a fachada da igreja de Burnier lembra, em muito, a estrutura das primeiras basílicas cristãs, erguidas ainda sob influência do paganismo romano. Ao centro, sobressai uma ampla porta em arco pleno, sem, contudo, apresentar as detalhadas e enfeitadas arquivoltas concêntricas típicas do estilo original (especialmente no norte de Portugal). Domina o frontão, uma rosácea lindamente ornamentada, cujo desenho nos remete aos arabescos árabes. Uma cruz tipo céltica encima todo o conjunto.

Internamente, segue o citado estilo basilical, com nave central, naves laterais, abside, transepto cruciforme, arcos plenos etc.


Alex Bohrer
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AMARANTINA

Cresceu a cidadezinha aos pés da velha capela, que mais tarde os féis transformariam em uma grande igreja, com duas torres imponentes. Insiste a lenda em dizer que o atual templo, que no século XIX substituiu a antiga capelinha, é réplica, em menor tamanho, da Igreja de São Gonçalo do Amarante, em Portugal. É óbvia a semelhança entre as torres das duas igrejas: a torre mineira deve ter se inspirado na portuguesa, estando aí a provável origem da lenda. Trinta anos atrás, sua capela-mor, infelizmente, foi destruída. A imagem original do santo também se perdeu. Conserva hoje em seu interior, de interesse artístico, dois altares muito antigos (um dos quais, apesar das modificações, guarda características do Estilo Nacional Português, o que bem demonstra sua fatura recuada) e um curioso chafariz.

Pouco distante desta igreja estão as ruínas de uma imensa casa de pedra. Argumenta a tradição popular que o edifício foi construído pelos primeiros bandeirantes, que lá chegaram nos idos do século XVII. Parece realmente, pela análise morfológica, que se trata de estrutura muito antiga. Porém, não foram encontrados documentos acerca da verdadeira origem da ‘Casa Bandeirista’ e, nem tampouco, da própria Amarantina.

Acredita-se que o povoado, propriamente dito, tenha surgido em meados do XVIII, quando a produção agrícola de Cachoeira entrou em seu apogeu, reservando para os agricultores dos baixios o plantio de alguns produtos especiais, cujo terreno encharcado era propício. Esta baixada, porque estava constantemente inundada pelas águas do Rio Maracujá, recebeu o nome de Tijuco. Posteriormente, passou a ser São Gonçalo do Tijuco, em homenagem ao santo vindo de Portugal. Coexistiu, daí em diante, com a denominação de São Gonçalo do Amarante, em lembrança da cidade de origem da imagem. No século XX - Decreto-Lei n°1.058, de 31 de dezembro de 1943 - mudaram-lhe o nome para Amarantina.

Vale a pena ressaltar que o distrito preserva uma festa raríssima, as Cavalhadas em honra a São Gonçalo, patrimônio cultural dos mais interessantes de Ouro Preto.


Alex Bohrer
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A PONTE DO PALÁCIO

Após o esmagamento da Revolta de Filipe dos Santos, em 1720, o Conde de Assumar propôs ao rei de Portugal a transferência da capital para Cachoeira, por ser lugar mais aprazível e estratégico. Os planos de Assumar objetivavam ainda instalar aqui um amplo palácio e uma casa da moeda. A transferência completa nunca foi feita. Entre 1730 e 1733, contudo, foram construídos uma casa de campo e um quartel da cavalaria, no local onde hoje está o Colégio das Irmãs. A partir daí os governadores costumavam passar vários dias em Cachoeira, longe da turbulenta Vila Rica.

Em 1779, Dom Antônio de Noronha inaugurou o Quartel General da Cavalaria (o antigo Colégio Dom Bosco), alguns quilômetros distantes da casa de campo. Em 1782, Dom Rodrigo José de Meneses transformou essa casa de campo, agora desmembrada do quartel, numa construção imponente e espaçosa: o Palácio de Veraneio dos Governadores. Para dar acesso ao novo complexo foi construída uma sólida passagem, a célebre Ponte do Palácio. Deste lugar partia o Caminho de Dom Rodrigo, ligando Cachoeira do Campo a Ouro Preto (o que também facilitava sobremaneira o acesso à Comarca do Rio das Velhas, via Ponte de Ana de Sá, em Glaura). Quando o Visconde de Barbacena chegou nas Minas, em 1788, escolheu Cachoeira como sua residência oficial. O Palácio se tornaria célebre com o advento, um ano depois, da Inconfidência Mineira. Datam do século XIX os primeiros registros fotográficos da ponte - nestas fotografias é possível ver ainda os vestígios dos jardins e do pomar dos governadores.

Pela Ponte do Palácio passaram homens famosos como Dom Pedro I e seu filho, Pedro II, Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga, Saint-Hilaire, Johann Emanuel Pohl (que a descreve em 1819) e Manuel Bandeira. Hoje, o trânsito pesado da rodovia e o tráfego desrespeitoso de caminhões sobre a estrutura ameaçam esse patrimônio do município. As frágeis balizas de contenção são sempre colocadas e são sempre destruídas. Só há uma forma de evitar a lenta agonia desse bem: conscientização e fiscalização.

A Ponte do Palácio nunca sofreu reforma (com exceção dos parapeitos que foram reconstruídos na década de 1990). Seria muito oportuno um projeto paisagístico que valorizasse esse importante monumento brasileiro.

Alex Bohrer
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A IGREJA DE NOSSA SENHORA AUXILIADORA DE MIGUEL BURNIER

Em princípios do século XX, sob auspícios da mulher do Sr.Wigg, Dona Alice, foi inaugurada a Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora de Calastróis em Miguel Burnier. Com o crescimento acentuado da povoação e da indústria, a capela foi elevada à categoria de sede de paróquia, ereta em 16 de julho de 1918. A invocação - Nossa Senhora Auxiliadora - vinha, desde 1896, sendo propagada na região pelos padres salesianos de Cachoeira, cujo orago protetor é a Senhora Auxiliadora.


Ao que parece, a atual igreja foi construída sob o arcabouço de uma capela mais antiga, erguida na mesma colina. No frontispício podemos perceber quanto dessa velha ermida está preservada na atual: as janelas e a porta de verga arqueada, o óculo de caprichoso desenho barroco, o frontão triangular simples - tudo leva a crer tratar-se de capela colonial, do tipo que até hoje encontramos com certa abundância pelos campos de Minas. Excetuando-se a torre sineira - única e inserida à esquerda - a fachada lembra a vizinha Capela do Chiqueiro (que será analisada aqui futuramente)

Internamente, possui delicado forro estucado e altares da época da criação da paróquia, com refinados detalhes em madeira e mármore. O altar-mor está abrigado em uma abside - inexistente nas criações barrocas, mas comuns ao estilo românico e gótico. O Altar do Santíssimo possui forte tendência neoclássica, com dois grandes nichos laterais, vazios como o trono. A sacristia guarda um interessante oratório pintado de branco.

Atrás do templo ergue-se a residência do vigário, chamada também de Casa do Padre Marcelino, tendo aí residido o célebre sacerdote italiano que substituiu Padre Afonso na cabeça da paróquia de Cachoeira, por ocasião de sua morte em 1911 (aliás, a Freguesia de Cachoeira sempre alternou a administração da região de São Julião com o Pilar de Ouro Preto e com a então recente Paróquia de Auxiliadora de Calastróis, criada sob intercessão de Alice Wigg).

Todo o conjunto, incluindo o pequeno adro e o diminuto coreto frontal, se acha atualmente em estado ruinoso e abandonado.


Alex Bohrer
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domingo, 3 de julho de 2011

Alex Bohrer lança o livro “Ouro Preto: Um Novo Olhar”

A cidade símbolo da liberdade no Brasil é um convite ao passado. Centenas de prédios históricos, ruas tortuosas e um relevo único tornaram Ouro Preto o primeiro lugar do país a ser declarado Patrimônio da Humanidade. A antiga capital de Minas é o emblema maior do período de ouro da Coroa Portuguesa, mas também se tornou sinônimo de rebeldia e revolta nos ideais dos Inconfidentes.

Ao lado de toda essa riqueza vista na sede, Ouro Preto é um município culturalmente rico, condizente com a vastidão de seu território, com diversos distritos e povoados, todos a contar a história da velha Vila Rica. E é justamente com esse foco que o historiador Alex Bohrer lança o livro “Ouro Preto: Um Novo Olhar”. Com as belas ilustrações de Adenilson José, esse livro era há muito esperado.

Ouro Preto é muito mais que seus casarões, museus e igrejas. Vários distritos e povoados se espalham pelo município e são repositórios da história do antigo Termo de Vila Rica, tão quanto a famosa sede. Era urgente uma releitura de Ouro Preto, um novo olhar sobre a célebre cidade do ouro.

Alex Bohrer, professor, ouro-pretano e cachoeirense (como gosta de afirmar), é conhecido pelos estudos que desenvolve sobre História de Minas Gerais e Arte Colonial. Atualmente é Professor Efetivo do IFMG (Instituto Federal de Minas Gerais). Possui diversos textos publicados sobre Barroco Mineiro e História de Ouro Preto, no Brasil e no exterior. Foi em hora precisa - 300 anos de Vila Rica - que a Prefeitura de Ouro Preto tornou possível, através da comissão comemorativa do tricentenário, a publicação dessa obra.

Nas páginas desse livro, o leitor descobrirá uma nova Ouro Preto, pungente e surpreendentemente inexplorada.

Prepare-se, então, para uma viagem única na história de Minas e do Brasil!
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Local: Auditório do Anexo do Museu da Inconfidência

Endereço: Rua Vereador Antonio Pereira, 33, Centro Histórico – Ouro Preto

Lançamento do livro e abertura da exposição com as ilustrações originais de Adenilson José: 09 de julho, às 19h

Período da exposição: 09 a 24 de julho

Horário de visitação: 12h às 18h, de terça a domingo



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